Já o destino não é mais a entrevista em uma empresa, e sim a sala de aula de um curso preparatório para concurso. No país onde cerca de 10% da população das principais capitais está desempregada – o que corresponde a quase 2,5 milhões de pessoas, o equivalente à população de Salvador -, a indústria do concurso público prospera, com a expectativa de abertura de dezenas de milhares de vagas.
O fenômeno acaba repercutindo na rede privada de educação, com a proliferação de cursinhos pré-concursos, como uma forma de atender à grande demanda e de driblar a crise, que se instalou no setor após um longo período de crescimento, alimentado, principalmente, pelo descrédito da população no ensino público e de sua precariedade. A maioria das escolas da rede privada teve seu zênite nas três últimas décadas, em decorrência do fracasso da Reforma Jarbas Passarinho, que, no período do governo militar, pretendia universalizar o ensino técnico nas escolas públicas brasileiras, com o intuito de formar e qualificar a futura massa trabalhadora do então crescente setor industrial, no período conhecido como milagre brasileiro.
A incapacidade financiadora do estado neste período histórico, somado à incompetência na gerência dos recursos já existentes, ocasionou o início do sucateamento da rede pública de ensino, como, infelizmente, ainda hoje, pode-se observar. No entanto, com o empobrecimento da classe média, por falta de opção, a escola pública retorna ao foco dos interesses dos pais dos alunos. Com a debandada de estudantes, a saída para boa parte dos empresários do setor educacional tem sido a criação de cursinhos voltados ao treinamento de candidatos a vagas no funcionalismo público. Esta demanda, aliás, representa outra face da crise econômica nacional, derivada da quebradeira generalizada de milhares de empresas nos mais variados setores produtivos, dando a impressão ao trabalhador que não existe vida digna além das mamas do Grande Leviatã.
Graças a esse fenômeno, estudantes que poderiam, após concluírem seus cursos, iniciar empreendimentos independentes para ajudar o país a reduzir os efeitos da chaga do desemprego, ao contrário, sonham com as vantagens dos salários das burocracias públicas e de sua desejável estabilidade empregatícia, um eufemismo para emprego vitalício e sem riscos.
Não se trata aqui de querer recriminar a opção pelas autarquias estatais, que são necessárias, diga-se de passagem, e que necessitam de mão de obra qualificada para que consigam otimizar seus serviços. Contudo, é de empreendedores, e não de concursandos que o país mais carece neste momento e é para o setor produtivo e independente que se deve voltar também o esforço educacional, tanto técnico quanto humanístico. Muito da responsabilidade sobre o grande número de fechamento de empresas no país – não obstante todos os problemas de ordem tributária, trabalhista e de insegurança institucional – deve-se à leiguisse administrativa de seus gestores.
É de envergonhar a catarse alienante pelo qual, passivamente, se deixa ser acometida a classe média brasileira. Entorpecida pela nova onda de concursos públicos, esta vislumbra servir a quem, contraditoriamente, suprime as suas liberdades, dando-lhe desemprego e desamparo em troca de sua última gota de suor.
Transformando
Sonhos em Realidade
Na primeira parte da minha autobiografia, conto minha trajetória, desde a infância pobre por diversos lugares do Brasil, até a fundação do grupo Ser Educacional e sua entrada na Bolsa de Valores, o maior IPO da educação brasileira. Diversos sonhos que foram transformados em realidade.