Muito embora se possa encontrar nos estudos de Adam Smith os primeiros passos rumo à teoria organizacional, o fato é que, como afirmara o grande civilista francês Goerges Ripert, “o direito civil não conhece a empresa, mas só o proprietário”.
Como as teorias políticas, econômicas e jurídicas não apontavam para uma teorização específica – a da empresa -, sobretudo porque não cuidavam das suas engrenagens internas, das vicissitudes ou dos fracassos ocasionados pelas chamadas “crises cíclicas” introduzidos pela sociedade industrial, apareceu, na primeira metade do século XIX, aquilo que passou a se chamar de “Administração Científica”.
O binômio Fordismo/Taylorismo desencadeia uma nova era para compreensão da empresa, em sua totalidade. Mesmo que as versões epistemológicas que apareceram nessa época remontem à Economia Política clássica, ao positivismo comteano e, sobretudo, às concepções teóricas formuladas por Max Webber, a chamada era da “Administração Científica” floresceu sob o signo do Racionalismo Instrumental a serviço da produção capitalista surgida no Século XIX. Daí por diante não se parou mais de se formular pesquisas, produções acadêmicas e práticas organizacionais que legaram ao mundo empresarial e a todas as organizações privadas e públicas um avanço extraordinário nos critérios de sociabilidade, eficiência e qualidade, não somente para o mundo dos negócios, como também para o mundo da vida.
Não caberia a mim, nesta escrito, revolver a evolução histórica do pensamento organizativo ou seus principais paradigmas. Muito menos, a dinâmica organizativa e as últimas tendências da teoria organizacional. Mas, uma breve leitura de um dos gurus deste ramo da ciência humana me chamou a atenção, mesmo não sendo eu um especialista no assunto. Trata-se de um texto magnífico escrito na década de oitenta do século passado, por Peter Drucker, com o título O Novo Papel da Administração ou Management’s New Role.
Começa ele lembrando que a administração hoje apresenta novas teorias e novas práticas, que exigem dos administradores mudanças em seu comportamento, uma vez que as premissas mais importantes nas quais tanto a teoria como a prática da administração se têm baseado nestes últimos cinqüenta anos estão se tornando rapidamente inadequadas.
Muito embora registre a obsolescência e inadequação dessas supostas verdades, já que estaria havendo uma considerável mudança na real função do administrador, admite ele que a “administração tem sido a atividade vitoriosa por excelência nestes últimos cinqüenta anos – mais até do que a ciência.”
Passa, então, a apontar as cinco premissas que constituiriam os alicerces da teoria e da prática da administração no último meio século e que estariam relacionadas ao alcance, à tarefa, à posição e à natureza da administração.
A primeira falsa premissa estaria vinculada ao enunciado: “somente a empresa tem ‘responsabilidade social”. Sendo a empresa uma instituição totalmente excepcional e, como tal, as verdadeiras organizações, somente a elas cabe este papel. Os hospitais e as universidades, por exemplo, não são de forma alguma considerados “organizações”, porque não se lhes atribui atividade econômica. Para se contrapor a este enunciado, apresenta ele um outro: “Todas as instituições, inclusive as dos negócios, são responsáveis pela ‘qualidade de vida’”. Para ele todas as instituições terão de fazer com que o atendimento de valores, crenças e propósitos sociais básicos sejam um importante objetivo de suas atividades contínuas e não responsabilidade social que restringe ou se situa fora de suas funções fundamentais.
A segunda falsa premissa, afirma: “o espírito de empreendimento e a inovação ficam fora do alcance da administração”. Através dela, aparece, como princípio primordial e talvez única da administração, mobilizar as energias da organização comercial para a execução de tarefas conhecidas e definidas. Mesmo que tenha sido uma necessidade e uma imposição que envolveu o desenvolvimento, bem como a grande e complexa organização que se dirigia a produção e a distribuição. Mas, o abandono quase que total do espírito de empreendimento respondia a um momento histórico preocupado com a continuidade do desenvolvimento tecnológico e empresarial e que exigia mais adaptação do que inovação, mas capacidade para fazer melhor do que coragem para fazer de maneira diferente. Aí, Peter Drucker inverte o enunciado: “A inovação empresarial se tornará o núcleo e o cerne da administração”. Preconizava, à época, que a inovação empresarial será futuramente tão importante para a administração quanto o é atualmente a própria função administrativa; deverá ser cada vez mais executada nas e pelas instituições existentes e não mais será possível, portanto, considerá-la situada fora da administração ou mesmo em sua periferia.
A terceira falsa premissa informa que “cabe à administração tornar produtivo o trabalhador manual”. O trabalhador manual visto como um recurso, como um fator de custo e como um problema social e individual. Torná-lo produtivo sempre foi a maior realização da administração. Isso, sem dúvida, dizia ele, formou a base da opulência dos países desenvolvidos até a época presente, porque aumentou a produtividade do trabalho manual. O pioneirismo de Taylor se deve em grande parte ao desenvolvimento e o desempenho econômico do Japão, da Europa Ocidental e dos Estados Unidos. O autor, prognosticando a chegada das novas tecnologias, mais uma vez, inverte o enunciado: “cabe à administração tornar o conhecimento mais produtivo”. “Uma coisa está clara: tornando-se o conhecimento produtivo, provocar-se-ão, na estrutura de cargos, nas carreiras e nas organizações, mudanças tão drásticas como as que resultaram, na fábrica, da aplicação da administração científica ao trabalho manual. A ordem de serviço será, sobretudo, de ter drasticamente modificada, para permitir que o trabalhador mental se torne produtivo. Pois está absolutamente patente que o conhecimento só pode ser produtivo se o trabalhador verificar quem ele próprio é, qual tipo de trabalho que lhe é mais indicado e como ele trabalha melhor”.
Transformando
Sonhos em Realidade
Na primeira parte da minha autobiografia, conto minha trajetória, desde a infância pobre por diversos lugares do Brasil, até a fundação do grupo Ser Educacional e sua entrada na Bolsa de Valores, o maior IPO da educação brasileira. Diversos sonhos que foram transformados em realidade.