O ano era 1989 e aspirações e angústias também marcavam o cenário político brasileiro, delimitando o começo de uma nova era, com o maior marco do processo de redemocratização do País: a realização da primeira eleição direta para presidente do Brasil desde a instalação do Regime Militar. E eu, que nasci no ano do Golpe, conquistava o direito de finalmente experimentar o exercício da cidadania através do voto.
Outras conquistas eu já havia alcançado naquele ano. A maior delas e a de que mais me orgulhara era o diploma de bacharel em Direito. O título do Ensino Superior contrariava as expectativas para um menino vindo de uma família humilde, de uma pequena cidade estagnada pela inoperância do governo no Nordeste e pelo oportunismo de grupos políticos regionais que lucravam com a ignorância da população, que, sem escolaridade, mantinha-se mais facilmente manobrada e alheia aos desvios de recursos que movimentavam a “indústria da seca”.
Ter um diploma de graduação era privilégio dos “filhos dos coronéis”. Em 1989 o Brasil contava com pouco mais de 465 mil vagas no Ensino Superior, distribuídas em 902 estabelecimentos de ensino, entre faculdades e universidades. Felizmente duas décadas depois o cenário é outro: são cerca de 3 milhões de vagas distribuídas em 2.252 instituições.
Em um dos trechos do poema “Meus Vinte e Cinco Anos”, escrito no dia do meu aniversário e sob influência do existencialismo pessoniano questionava: “Coloco em dúvida se tudo o que passou valeu a pena, estudar, labutar, fome passar, no afã de cumprir a minha pena”. Hoje não titubeio na resposta. Valeu.
Toda dedicação, zelo, desvelo pelos estudos e as incontáveis horas de trabalho proporcionaram-me a conquista de que hoje mais me orgulho: a de fundar um grupo educacional propulsor de sonhos para milhares de jovens estudantes. E é por eles e para eles que 21 anos depois resolvi lançar uma segunda edição do livro Desvelo. O tempo não apaga nossos ideais.
