Sem a participação de mão-de-obra especializada na força de trabalho, fica difícil para um país obter a produtividade necessária para competir no mercado global. Diante da atual configuração, nunca foi tão crucial investir no setor educacional. A comparação entre o gasto do Brasil com educação e o de outros países, entretanto, revela um cenário preocupante. O país está na contramão das exigências da globalização.
De 34 países analisados por um estudo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgado recentemente, o nosso é o que apresenta menor investimento por estudante: US$ 1.303 por ano. Os 30 países da OCDE gastam, em média, US$ 7.527, quase seis vezes mais que o Brasil. No país que mais gasta com educação, Luxemburgo, este valor chega a US$ 13.453. Na prática, o pífio investimento do país em educação se traduz em atraso, não apenas social, mas também para o setor produtivo. Temos apenas 9% de técnicos e profissionais com curso superior no mercado de trabalho.
Quando a referência é o Produto Interno Bruto (PIB), a situação se agrava. Segundo o relatório da OCDE, no Brasil, o total do PIB investido em educação chega a 3,9%, ficando à frente apenas da Rússia (3,6%) e da Grécia (3,4%). A porcentagem do PIB gasta em educação demonstra a prioridade que um determinado país dá ao setor em relação a outros gastos de seu orçamento. Com base nos dados, não fica difícil concluir que a educação no País ainda está longe de receber tratamento estratégico, como nos Estados Unidos, onde os gastos com educação correspondem a 7,4% do PIB, quase o dobro.
As conseqüências desse quadro são avassaladoras. Além de afetar a distribuição de renda e o crescimento pessoal dos indivíduos, as deficiências educacionais que atingem o Brasil também provocam desemprego e perda de competitividade do País em relação a economias com as quais disputa o mercado global. Em um país com 8 milhões de desempregados, muitas companhias ficam meses com vagas em aberto pela incapacidade de encontrar trabalhadores de bom nível, o que é um cruel contra-senso. A baixa qualificação também afasta investimentos e impede a adoção de novas tecnologias.
Na falta de investimento público suficiente, a iniciativa privada funciona como uma forte aliada no combate às dificuldades educacionais. A Vale é um exemplo. A empresa, cujo negócio é extrair minério e transportá-lo até seus consumidores, forma 200 condutores de locomotiva por ano. A Tecnisa, empresa paulista dedicada à construção de prédios, gasta todo ano 150 mil reais para ensinar centenas de operários a ler, escrever e ter noções básicas de informática. São ações que demonstram como a educação é estratégica para essas empresas. Os resultados se evidenciam nos negócios.
O economista americano Edward Glaeser, professor da Universidade de Harvard, em reportagem publicada pela Revista Exame, sintetizou, com propriedade, o problema que o país enfrenta quanto ao setor educacional: “A educação é um dos motores do crescimento, e no Brasil esse motor funciona mal.” Para fazer esse motor trabalhar e crescer em uma economia globalizada, cada vez mais dependente de conhecimento e de inovação, serão necessários esforços conjuntos, envolvendo governo e iniciativa privada. Sobretudo, será preciso que a educação efetive-se como prioridade absoluta. Do contrário, o País terá que continuar pagando caro pela ignorância – com juros e correção monetária.
Transformando
Sonhos em Realidade
Na primeira parte da minha autobiografia, conto minha trajetória, desde a infância pobre por diversos lugares do Brasil, até a fundação do grupo Ser Educacional e sua entrada na Bolsa de Valores, o maior IPO da educação brasileira. Diversos sonhos que foram transformados em realidade.