Tinha o que falta aos outros 89,1% de jovens entre 18 e 24 anos que não conseguiram superar o ensino médio, incluindo-se nessa maioria de excluídos a parcela dos que sequer concluíram o ensino fundamental. Preferiu o jovem, todavia, enveredar pelo ingrato caminho do tráfico de drogas.
Notícias veiculadas recentemente na imprensa revelam que essa tem sido a trajetória lamentável de um número crescente de universitários. Somente neste ano, a polícia prendeu, pelo menos, outros sete estudantes acusados de envolvimento no tráfico. Três deles estariam comercializando drogas dentro de instituições de ensino superior, espaços destinados à formação de profissionais éticos e socialmente responsáveis. A realidade, estarrecedora, não exige apenas atenção maior da polícia, responsável pela repressão a esse tipo de crime. Também serve de a para pais e educadores. A esses últimos, aliás, cabe uma atuação ainda mais ampla.
Antes de partir para a ação, entretanto, há alguns aspectos a serem considerados. Segundo a polícia, esse tipo de crime apresenta singularidades que dificultam o seu combate. Por reunir um grande número de jovens, mais vulneráveis à influência dos colegas, as faculdades funcionariam como um ambiente facilitador da ação desses criminosos. Outro entrave seria o próprio perfil do traficante, que em nada se assemelha ao estereótipo do bandido comum. Em geral, os universitários envolvidos no tráfico se vestem bem e freqüentam locais típicos de classe média, o que dificulta a identificação dessas pessoas.
Essas barreiras não devem ser analisadas como desmotivadoras de uma ação mais enérgica. Ao contrário, precisam ser encaradas como um desafio pela polícia e pelas instituições de ensino. Mais ainda por essas últimas. Embora a repressão a esse tipo de crime seja de fundamental importância, há uma alternativa ainda mais simples e eficaz: a prevenção. Ações educativas, que orientem os jovens sobre os diversos riscos decorrentes do uso e do tráfico de drogas, contribuem para desestimular o consumo e, conseqüentemente, o tráfico de entorpecentes, admite a própria polícia. Dois problemas resolvidos em uma tacada só.
Para surtir efeito, porém, essas ações precisam atingir, de maneira efetiva, o público a que se destinam. Palestras, seminários e oficinas, orientando que a cocaína causa excitação, mas que pode levar a uma parada cardíaca, ou que as distorções da imagem favorecidas pelo êxtase podem vir acompanhadas de um quadro depressivo, entre outros efeitos nocivos do uso de drogas são importantes, mas podem não ser suficientes para impedir que o jovem continue usando drogas ou que se abstenha do primeiro consumo. É necessário que essas pessoas também estejam convencidas de que o uso pode conduzir rapidamente ao tráfico, que, por sua vez, pode resultar em conseqüências criminais. O artigo 33 da nova Lei de Entorpecentes (nº 11.343, de agosto de 2006) é claro: tráfico de entorpecentes, crime considerado hediondo, prevê pena de reclusão de cinco a 15 anos, ampliada de um sexto a dois terços quando a prática ocorre dentro de uma instituição de ensino.
Para não se tornarem reféns do tráfico de drogas, as instituições de ensino precisarão ir além do discurso. Terão que mostrar aos seus alunos, com ações efetivas, que não irão tolerar esse tipo de conduta do lado de dentro de seus portões. Assim, estarão colocando em prática a missão maior para qual foram criadas: a de educar. Em Pernambuco, felizmente, essa consciência já começa a ser assimilada por muitas faculdades.
Voltando a L.Q.B., mencionado na abertura desse artigo, o jovem negociava maconha no estacionamento da faculdade até ser flagrado por câmeras do circuito interno de TV. Terminou preso, denunciado pela instituição de ensino onde estudava e traficava.
* Presidente do Sindicato das Faculdades Particulares de Pernambuco e presidente da Associação Brasileira de Faculdades Isoladas e Integradas
Transformando
Sonhos em Realidade
Na primeira parte da minha autobiografia, conto minha trajetória, desde a infância pobre por diversos lugares do Brasil, até a fundação do grupo Ser Educacional e sua entrada na Bolsa de Valores, o maior IPO da educação brasileira. Diversos sonhos que foram transformados em realidade.