Mas o crime custa, ainda, muito mais ao Brasil. Já há, inclusive, formas de se mensurar esse valor, com método e rigor. Segundo pesquisa realizada pelo Grupo de Estudos da Violência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o custo da violência representa 5% do nosso Produto Interno Bruto (PIB), a soma das riquezas produzidas pelo país em um ano.
Em valores monetários, esse verdadeiro estado de guerra permanente representa para o país aproximadamente R$ 92 bilhões, dinheiro que poderia estar sendo aplicado em outrasáreas. Os dados referem-se ao ano de 2004. Esse montante – nada modesto – equivale ao quádruplo dos gastos do governo federal com educação para este ano. De acordo com o site Contas Abertas, a previsão orçamentária do Ministério da Educação (MEC) corresponde a R$ 27,6 bilhões. São gastos associados a perdas de vidas, tratamentos de saúde de vítimas de violência, despesas com segurança e desestímulos à atividade econômica. Até a realização da pesquisa do Ipea, esses eram custos que permaneciam camuflados por falta de estudos de abrangência nacional.
Os números permitem uma avaliação mais precisa da dimensão e do impacto da violência. Mais ainda: pressionam as autoridades, apontam caminhos e motivam a sociedade a cobrar resultados. Afinal, o que está em jogo é algo além da segurança pública. O avanço desenfreado da violência ameaça o desenvolvimento do país, já que recursos que poderiam ser empregados na melhoria de setores essenciais e estratégicos, como a educação, estão sendo absorvidos pela violência. Dos R$ 92 bilhões que o crime consome por ano, R$ 31,9 bilhões referem-se ao custo do setor público. Desse total, R$ 28 bilhões são aplicados na manutenção das polícias e das secretarias de segurança, quase R$ 3 bilhões sustentam o sistema prisional e mais de R$ 1 bilhão, o tratamento de vítimas da violência.
No setor privado, somente a perda de capital humano é estimada em R$ 23,9 bilhões, ou 1,35% do PIB. Os pesquisadores chegaram a esse valor por meio de uma estimativa do que as vítimas receberiam durante suas vidas caso não tivessem sido interrompidas pela violência. É dinheiro que movimentaria a economia, geraria empregos. Enfim, que contribuiria para o desenvolvimento. O impacto da violência para o setor inclui, ainda, custos com segurança privada, seguros e perdas das vítimas por roubos e furtos. É válido registrar que, embora já suficientemente alarmantes, os dados da pesquisa ainda são conservadores, pois excluem fatores que poderiam elevar ainda mais o preço da violência, como custo judicial, perdas imobiliárias e gastos com investigações.
Há números que sugerem qual seria o impacto para o Brasil caso os custos com o crime fossem mais bem gerenciados, por meio de estratégias mais eficientes e eficazes de controle da violência. Segundo relatório divulgado pelo Banco Mundial (Bird), o PIB do país deixa de crescer meio ponto porcentual por ano porque um grande contingente de jovens não consegue terminar a escola. Significa que, em 40 anos, o Brasil deixa de ganhar R$ 300 bilhões, cerca de 16% do PIB. Entre os custos dessa evasão, um dos graves problemas educacionais que poderiam ser enfrentados com mais rigor, caso houvesse maior investimento no ensino básico, destaca-se o aumento da própria criminalidade. Uma prova de quanto o país deixa de ganhar quando o custo da violência extrapola os limites.
Experiências de países desenvolvidos demonstram que o combate ao crime depende mais de uma gestão adequada que de um grande volume de recursos. Nos Estados Unidos, a cultura de monitoramento e avaliação tem permitido a identificação das ações anticrime mais enérgicas, o que serve de termômetro na hora de repartir os recursos. É evidente que o controle da violência sempre exigirá do governo investimentos consideráveis, só não se pode admitir que alcancem proporções exageradas. Basta registrar que, enquanto metade das escolas brasileiras ficou abaixo da média nacional do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), o custo anual do crime por brasileiro alcança R$ 519,40. É mais que o salário mínimo, do qual dependem cerca de 44 milhões de brasileiros.
Transformando
Sonhos em Realidade
Na primeira parte da minha autobiografia, conto minha trajetória, desde a infância pobre por diversos lugares do Brasil, até a fundação do grupo Ser Educacional e sua entrada na Bolsa de Valores, o maior IPO da educação brasileira. Diversos sonhos que foram transformados em realidade.