Olhos maquiavélicos sobre as “coisas públicas”

Olhos maquiavélicos sobre as “coisas públicas”

Por: Janguiê Diniz
13 de Dez de 2011

Com efeito, aos olhos de uma noção clássica da filosofia, todas as coisas têm matéria e forma. O corpo do homem é a matéria, e a sua alma constitui a forma. Em um Estado, a matéria é o povo ( o conjunto dos cidadãos ), e a forma se dá através do regime político instalado. Idade, poder econômico, níveis de escolaridades são partes da matéria. O Poder Executivo, uma Câmara Consultiva, a Polícia, Escolas são partes da forma. Enfim, o conjunto das instituições constitui o Estado. A corrupção jamais está em todas as instituições de uma só vez. Sempre há resistências. É impossível o Estado ser corrompido em todas as suas partes. Ele não sobreviveria.

Nessa perspectiva, a extorsão, a cobrança de propinas, denúncias contra ministros são exemplos que, embora frequentes na administração pública, não se pode dizer que tal grau de corrupção seja a lógica da ação política desse Estado. Ainda que fique a sensação de corrupção generalizada de seus membros, não seria devida tal leitura. Passando a corrupção a ser a regra, não estaríamos falando de pessoas corruptas. E, sim, de instituições do governo. Mas não temos órgãos corruptos. Temos olhos maquiavélicos sobre as “coisas públicas”.

A ocupação da Rocinha revelou que policiais ( pessoas do estado ) protegiam traficantes. Portanto, traficantes corrompiam o estado. Recentemente, o Ministério Público de São Paulo mostrou práticas de corrupção envolvendo agentes públicos de várias prefeituras. Com esta outra lente, observa-se a corrupção sendo combatida.

Maquiavel, fundamentado em la verita effetuale dela cosa, isto é, a verdade efetiva das coisas, afirma que em toda cidade há, ao menos, dois grandes grupos políticos: “os grandes ou ricos” e “os pobres ou pequenos”. Depois esclarece que o interesse político desses grupos se distingue. E dessa natural tensão, é inexorável o conflito. Mas tudo isso lhe é natural, desde que não provoque derramamento de sangue ou guerra civil.

Outrossim, diríamos, em nosso tempo, que essa natural tensão é o que se dá durante a aprovação de uma lei, onde o interesse é o coletivo. As leis e institucionalizações impedem os abusos e moderam as vontades. Mas a corrupção está além desse exemplo. Ela interfere nos rumos da sociedade organizada.

Quem se lembra de Olívio Dutra, em 1988? Sua gestão implantou um mecanismo de participação política: o “orçamento participativo”. Dividindo a cidade em setores, realizavam-se reuniões com a participação de moradores para decidir como seria gasta uma parcela do orçamento da prefeitura. Foi inevitável, no início, parcela da população querer atender a interesses próprios como “minha rua”, “minha calçada”. Mas o espírito público foi se fazendo maior.

Em 2004, o PT perde a prefeitura. José Fogaça, do PPS, assume. Mas foi mantido o Orçamento Participativo. Vemos que a iniciativa de um grupo se transformou em instituição política. E isto se ampliou – bem sabemos. São iniciativas como essa ( do orçamento participativo ) que garante afirmar não haver apenas olhos maquiavélicos sobre o que é público. Porém, devamos estar sempre avisados de que eles, assegura-nos o próprio Maquiavel, naturalmente surgem na própria estrutura governamental. Mas estamos cada vez mais de olhos abertos. Atento leitor, não desligue seu GPS.

Transformando

Sonhos em Realidade

Na primeira parte da minha autobiografia, conto minha trajetória, desde a infância pobre por diversos lugares do Brasil, até a fundação do grupo Ser Educacional e sua entrada na Bolsa de Valores, o maior IPO da educação brasileira. Diversos sonhos que foram transformados em realidade.

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