Professor não é herói

Professor não é herói

Por: Janguiê Diniz
11 de Jan de 2008

Segundo o levantamento, de tão empenhados no cumprimento de sua missão educacional, esses profissionais receberam dos pais dos alunos nota 8,6 no quesito qualidade de ensino. Foram aprovados por média.

Diante de expressiva aprovação dos que estão na ponta do processo de ensino, era de se esperar que os estudantes obtivessem desempenho, pelo menos, semelhante ao alcançado pelos seus mestres. Mas sabemos que não é bem assim. De acordo com o último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), metade das escolas brasileiras está abaixo da média nacional. A discrepância entre a avaliação dos pais acerca da qualidade dos professores de seus filhos e o rendimento dos alunos mensurado pelo Ministério da Educação (MEC) revela que há algo fora do lugar. Se os professores têm cumprido sua função com eficácia, por que os estudantes não têm respondido satisfatoriamente?

Há, portanto, um lapso a ser superado. Persiste na sociedade brasileira a idéia de que o professor é o herói do sistema educacional: não mede esforços para superar o desafio de elevar a qualidade do ensino no País, tampouco esmorece diante dos elevados índices de evasão, da infra-estrutura precária das escolas, da deficiência de material didático, entre outras barreiras. Segundo essa visão, o ônus de todo o fracasso educacional recairia sobre o governo, a direção das escolas, a comunidade e até mesmo sobre os próprios alunos. Quanto aos professores – mal remunerados, submetidos a uma carga-horária massacrante e a péssimas condições de trabalho –, esses seriam apenas vítimas do processo.

O raciocínio estaria correto, se os fatos não o desmentissem. Segundo o estudo da Unesco, 58% dos professores trabalham apenas em uma escola e apenas 9% atuam em três locais de trabalho. Também não procede o argumento de que a categoria seria vítima de discriminação salarial. Como bem enfatizou o economista Gustavo Ioschpe, em artigo recentemente veiculado em sua coluna na revista Veja: “É verdade que o professor brasileiro tem um salário absoluto baixo – o que se explica pelo fato de ele ser brasileiro, não professor”. Ainda sobre esse aspecto, o professor brasileiro leva vantagem, inclusive, em relação a outros países. Enquanto a média do salário do profissional nos países da OCDE (que têm a melhor educação do planeta) é de 1,3 vez a renda média do país, aqui ele ganha o equivalente a 1,5. Na América do Sul, recebem 0,85, na Argentina, e 0,75, no Uruguai.

Não nos esqueçamos de mencionar, também, as vantagens da profissão. Diferentemente dos profissionais das demais categorias, os professores gozam de férias longas, estabilidade no emprego e regime especial de aposentadoria, já que 80% são funcionários públicos. Beneficiam-se, ainda, de uma regulamentação flexível. Basta destacar que, no Estado de São Paulo, 13% dos professores da rede estadual faltam a cada dia, contra 1% daqueles da rede privada.

Diante dos fatos, é inadmissível perpetuar a idéia de que o professor é o herói da educação – o que não diminui a relevância desses profissionais para o alcance de um ensino de qualidade. Pelo contrário, será preciso atribuir-lhes a responsabilidade correspondente à importância que desempenham para o futuro educacional do País. Isso implica aceitar que nossos professores, em vez de mitos, sejam considerados profissionais passíveis de críticas construtivas e avaliações objetivas de seus méritos e falhas.

Transformando

Sonhos em Realidade

Na primeira parte da minha autobiografia, conto minha trajetória, desde a infância pobre por diversos lugares do Brasil, até a fundação do grupo Ser Educacional e sua entrada na Bolsa de Valores, o maior IPO da educação brasileira. Diversos sonhos que foram transformados em realidade.

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